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Morre César Menotti na Argentina, a causa da morte ainda não foi revelada

A Argentina se despediu neste domingo (31) de uma de suas maiores lendas do futebol. César Luis Menotti, técnico responsável por levar a seleção argentina ao seu primeiro título mundial em 1978, faleceu aos 85 anos, em Buenos Aires. A notícia foi confirmada pela Associação de Futebol Argentina (AFA), que lamentou profundamente a perda.

“A Federação Argentina de Futebol lamenta informar com grande tristeza a morte de César Luis Menotti, atual Diretor de Seleções e ex-técnico campeão mundial da Argentina”, escreveu a AFA em suas redes sociais.

O Comandante da Glória de 1978

Menotti entrou para a história ao conduzir a seleção albiceleste à vitória na Copa do Mundo de 1978, realizada em solo argentino. A final, disputada no Estádio Monumental de Núñez, foi vencida na prorrogação contra a Holanda por 3 a 1, diante de uma torcida em êxtase. A conquista marcou não apenas o início da tradição campeã da Argentina, mas também o estilo ousado e artístico que Menotti tanto defendia.

Apesar da conquista, a campanha não contou com uma vitória sobre o Brasil, que terminou empatado em 0 a 0 no confronto conhecido como “Batalha de Rosário”, válido pela fase semifinal do torneio. À época, a seleção brasileira era comandada por Cláudio Coutinho.

Crítico do Futebol Atual, Inclusive o Brasileiro

Mesmo sendo um admirador confesso da seleção brasileira, especialmente da geração de 1970, Menotti foi bastante crítico em relação ao futebol recente do Brasil. Após a derrota da seleção canarinho por 1 a 0 para a Argentina no Maracanã, pelas Eliminatórias da Copa de 2026, ele foi duro em suas palavras:

“Me dá vergonha o que está acontecendo com o Brasil. Eu vivi uma época maravilhosa deles, na Copa de 1970. Acredito que há uma decadência cultural. E não entendo como podem jogar tão mal, sem honrar toda a sua brilhante história”, afirmou em entrevista ao canal DSports.

Sua crítica foi vista como uma análise provocativa e, ao mesmo tempo, como um alerta para a importância de se preservar os valores históricos do futebol arte.

Uma Figura Polêmica e Corajosa

Menotti sempre foi mais do que um treinador. Boêmio, militante de esquerda e crítico do regime militar que governava a Argentina durante a Copa de 1978, ele defendia um futebol baseado no toque de bola e na criatividade, mesmo em tempos em que a repressão era severa. Um dos episódios mais controversos de sua carreira foi a ausência de Diego Maradona na convocação para a Copa de 1978 — o que gerou críticas na época. Ainda assim, anos depois, Menotti e Maradona trabalharam juntos no Barcelona, superando as divergências.

Segundo o correspondente Ariel Palacios, do Grupo Globo:

“Menotti era um boêmio, um militante de esquerda em plena ditadura militar, com um estilo atrevido que pregava um futebol alegre. Ele argumentava que a posse de bola e o jogo de passes sucessivos eram essenciais.”

Saúde Fragilizada nos Últimos Meses

Nos últimos meses de vida, Menotti enfrentava uma série de complicações de saúde. Ele estava internado no Hospital Agote de Recoleta desde o final de março, devido a uma anemia profunda que evoluiu para um quadro de tromboflebite. Apesar disso, mantinha-se lúcido e demonstrava vontade de voltar para casa, segundo boletins médicos divulgados pelo jornal argentino Olé.

Em agosto do ano anterior, ele havia sofrido uma queda em casa que resultou em uma hemorragia interna, agravando ainda mais seu estado de saúde.

Menottismo x Bilardismo: Duas Escolas, Uma Nação Dividida

Menotti também será lembrado por ser o símbolo de uma das duas grandes escolas do futebol argentino: o “menottismo”, que prioriza o futebol artístico e ofensivo, e o “bilardismo”, liderado por Carlos Bilardo, técnico do título de 1986, que defendia uma abordagem pragmática e orientada por resultados.

“Menotti dizia que o jogador é um intérprete privilegiado dos sonhos de milhões. Para ele, o futebol era arte. Já Bilardo pensava diferente: ‘no futebol, só a vitória importa, e de qualquer jeito’”, relembrou Ariel Palacios.

Essa divisão filosófica marcou gerações e influenciou o modo como o futebol é jogado e discutido na Argentina até os dias atuais.

Última Aparição Pública e Homenagem a Di María

A última vez que Menotti apareceu publicamente foi em 13 de março, quando deu uma entrevista à Rádio Splendid. Na ocasião, elogiou o atacante Ángel Di María, protagonista no tricampeonato mundial conquistado pela Argentina em 2022, no Catar.

“Ele é um dos melhores jogadores da história do futebol argentino. Nunca vendeu ilusões. Tenho muito apreço por ele, mesmo sem ter nenhuma relação pessoal”, declarou.


Legado Imortal

Com a morte de César Luis Menotti, a Argentina perde mais do que um técnico: perde uma referência moral, estética e ideológica do futebol. Sua visão ousada, suas críticas afiadas e sua paixão pelo jogo continuarão influenciando futuras gerações de treinadores, jogadores e torcedores.

“El Flaco” deixa um legado eterno — não apenas por ter conquistado o mundo, mas por ter acreditado, até o fim, que o futebol podia (e devia) ser belo.

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