A professora Valdira das Neves e seu filho, Marcelo, vivem uma história de amor familiar e cumplicidade rara. Ambos estão planejando a realização de grandes sonhos: Marcelo se tornará pai, e Valdira será avó. Contudo, essa história tem uma experiência emocionante – é Valdira quem está gestando os filhos do próprio filho. Aos 45 anos, ela vive uma jornada única ao carregar os netos em seu ventre, o que a faz sentir-se ao mesmo tempo mãe e avó. “É como se eu fosse uma mãe-avó”, comenta, enfatizando o caráter especial dessa experiência. A decisão é repleta de significado, marcando um novo capítulo na vida de ambos e evidenciando o laço profundo que os um.
A gestação de Valdira ocorre através do procedimento conhecido como “barriga solidária”. Nesse processo, a medicina uniu os espermatozoides de Marcelo aos óvulos de uma doadora anônima por meio de fertilização in vitro. Após a criação dos embriões, eles foram transferidos para o útero de Valdira. Assim, ela se tornou portadora dos netos, cumprindo o desejo de Marcelo de ser pai e a própria vontade de continuar sendo uma figura de afeto e apoio constante. Esse caminho, embora inovador, foi trilhado com cuidado, reflexão e uma profunda dedicação familiar.
Para que essa jornada fosse possível, Valdira e Marcelo enfrentaram alguns desafios pessoais. Quatro anos antes, Valdira gravou o marido, mas uma complicação durante a gravidez resultou em uma perda dolorosa no sétimo mês. Um bebê, que recebeu o nome de Helena, não sobreviveu, e a experiência trouxe tristeza para toda a família. No entanto, essa perda também incentivou Marcelo a buscar meios de realizar seu desejo de paternidade. Vendo a mãe lidando com a dor, ele encontrou forças para sugerir que ela considerava uma nova tentativa, desta vez, para ajudar a realizar o sonho dele.
Desde jovem, Marcelo manifestava seu desejo de ser pai. A decisão de buscar a “barriga solidária” foi fruto de um diálogo sincero e de muita compreensão entre mãe e filho. “Eu sabia que minha mãe tinha um coração generoso e um desejo de ver nossa família crescer”, conta Marcelo, refletindo sobre o momento em que a incentivou a abraçar essa ideia. O vínculo emocional entre os dois foi essencial para a decisão de Valdira, que aceitou o papel de gestante e apoiadora no sonho do filho, criando uma experiência de maternidade e avosidade que agora está integrada.
Do ponto de vista legal, o procedimento foi viabilizado com base nas leis de “útero de substituição”, permitidos para parentes de até quarto grau e que garantem a ética do processo ao proibir qualquer tipo de remuneração. A prática, por essa razão, difere da conhecida “barriga de aluguel”, sendo pautada em princípios de solidariedade. Valdira se submeteu a diversos tratamentos e cuidados especiais para tornar essa jornada viável, como o controle da tireoide e acompanhamento psicológico constante, enquanto ambos, mãe e filho, se preparavam emocionalmente para o desafio.
A caminhada não foi fácil, levou dois anos e quatro tentativas até o sucesso. Quando quase pensei em desistir, finalmente recebi uma notícia tão esperada. Para confirmar a gravidez, Marcelo comprou um teste de farmácia e, juntos, eles experimentaram a emoção de ver o resultado positivo. “Assim que o teste deu positivo, foi uma explosão de alegria”, relembra Marcelo. Pouco depois, um ultrassom de rotina revelou uma surpresa maior: Valdira estava grávida de irmãs. “Quando vimos que eram dois bebês, a emoção tomou conta”, relembra Valdira.
Por ser uma gestação gemelar e em idade avançada, a gravidez de Valdira é considerada de alto risco. Uma Dra. Camilla Vidal, especialista em fertilidade e responsável pelo caso, explica que é necessário um pré-natal específico, com atenção redobrada às possíveis complicações, como hipertensão e diabetes gestacional. A previsão é que os bebês, Noah e Maria Flor, nasçam saudáveis, ainda que o parto provavelmente ocorra antes do tempo devido às condições delicadas da gestação. Com cuidados médicos constantes, Valdira se prepara para o nascimento dos netos, equilibrando o desafio físico com a excitação emocional.
A empresa onde Marcelo trabalha concede-lhe uma licença-maternidade de cinco meses para que possa acompanhar de perto os primeiros momentos dos filhos. Essa proximidade será fundamental para a nova dinâmica familiar que construiremos juntos. Embora o registro de paternidade seja apenas de Marcelo, o amor e o comprometimento de Valdira são essenciais na criação de Noah e Maria Flor.