“Acabou o tempo dele”, “último recado”: Moraes cita ameaças de Bolsonaro

Julgamento Histórico: Bolsonaro, os Réus e os Riscos à Democracia Brasileira
O Brasil acompanha atentamente um dos julgamentos mais importantes de sua história recente. No dia 9 de setembro de 2023, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apresentou seu voto no processo que julga Jair Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado. A sessão marcou um momento decisivo para o futuro das instituições democráticas do país.
As Ameaças de Bolsonaro em Foco
Durante seu voto, Alexandre de Moraes relembrou uma série de declarações públicas feitas por Bolsonaro ao longo do seu mandato, destacando falas que, segundo o ministro, representam ameaças diretas ao Estado Democrático de Direito.
Uma das declarações mais emblemáticas ocorreu em 3 de agosto de 2021, durante uma entrevista em que Bolsonaro falou sobre o então presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso:
“Se o ministro Barroso continuar sendo insensível, como parece que está sendo, […] eu devo lealdade ao povo brasileiro e uma concentração na Paulista para dar um último recado para que eles entendam o que está acontecendo.”
Além disso, Moraes também citou o discurso do ex-presidente durante o 7 de setembro de 2021, quando, em um comício de tom agressivo, Bolsonaro atacou diretamente o próprio Moraes:
“Acabou o tempo dele. Sai, Alexandre de Moraes. Deixe de ser canalha, deixe de oprimir o povo brasileiro.”
Segundo o relator, essas falas configuram não apenas ataques pessoais, mas tentativas de deslegitimar o Judiciário e incentivar mobilizações populares contra as instituições democráticas.
Quem São os Réus no Julgamento?
O processo julga o que ficou conhecido como o “núcleo duro” da articulação golpista, composto por militares e ex-integrantes do alto escalão do governo Bolsonaro. Estão entre os réus:
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da Abin;
Almir Garnier, almirante e ex-comandante da Marinha;
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
Paulo Sérgio Nogueira, general e ex-ministro da Defesa;
Walter Braga Netto, general, ex-ministro da Defesa e ex-candidato à vice-presidência.
Todos são acusados de participação em um plano para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em 2023.
Acusações e Crimes Imputados
Os oito réus enfrentam acusações que incluem crimes graves com potencial para acarretar longas penas de prisão. Entre os crimes estão:
Organização criminosa armada;
Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
Golpe de Estado;
Dano qualificado pela violência ou grave ameaça;
Deterioração de patrimônio tombado.
Vale lembrar que, em maio de 2023, a Câmara dos Deputados aprovou um pedido de suspensão parcial do processo contra Alexandre Ramagem. Ele agora responde apenas por três dos cinco crimes originalmente atribuídos a ele.
Cronograma das Sessões
O julgamento foi dividido em várias sessões ao longo da semana, com o seguinte cronograma:
Terça-feira (9/9) – Das 9h às 12h e das 14h às 19h
Quarta-feira (10/9) – Das 9h às 12h
Quinta-feira (11/9) – Das 9h às 12h e das 14h às 19h
Sexta-feira (12/9) – Das 9h às 12h e das 14h às 19h
Esse calendário demonstra a complexidade do julgamento e a necessidade de tempo para analisar os vastos volumes de provas, depoimentos e manifestações jurídicas.
Um Julgamento Além dos Réus
Mais do que julgar indivíduos, o STF analisa um ataque ao funcionamento da democracia brasileira. As ações atribuídas aos réus não são vistas apenas como crimes isolados, mas como parte de um plano coordenado para romper a ordem constitucional.
Durante o julgamento, Moraes enfatizou que as instituições precisam se manter firmes diante de ameaças à legalidade democrática:
“A democracia não pode ser refém de ameaças, nem de discursos autoritários disfarçados de patriotismo.”
A sessão representa um marco não apenas jurídico, mas simbólico: um país que tenta se firmar como uma democracia madura está diante da oportunidade — e da responsabilidade — de responder com firmeza a tentativas de ruptura institucional.
Considerações Finais
O julgamento em curso será lembrado como um divisor de águas. Ele testará a resiliência das instituições brasileiras e a capacidade da Justiça de responsabilizar até mesmo os mais altos líderes do país quando o Estado de Direito é ameaçado.
Para além das condenações ou absolvições, a principal mensagem que o processo pode deixar é a de que ninguém está acima da lei, e que a democracia exige vigilância constante — não apenas por parte do Judiciário, mas também da sociedade civil.